"O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender..."
__Alberto Caeiro
Dentro dos caminhos, que nem sempre são ninhos, mais dia menos dia, nos deparamos com o que sabíamos, mas não queríamos ver: como para todos, "o tempo é escasso"! Não tendo o direito de 'nos perdermos' na aprendizagem que não seja a nossa, ou vivência de não ser, ou vivência "das sombras de árvores alheias"... Ou pior: vivência de não querer desaprender caminhos que só fazem sofrer, de um jeito ou de outro... Caminhos de reconhecer só o que não é.... Não merecemos o 'viver' da vontade de fazer o que só para os outros tem importância, regados de profunda ignorância ou enganos, como muitos fazem, querendo ou não, com ou sem percepção.
Sabe...!? Não temos tempo de passar de nós mesmos!
Dentro das trilhas percorridas, é preciso perceber que se quisermos realmente Ser, preciso é... Viver! Haver dedicação onde está a nossa verdade, ao o que almejamos, e do que realmente somos, não somente de acordo com o já 'rabiscado' ou determinado por valores questionáveis como sendo o ideal... Não só em sonhos, ou como de 'alma de poeta', mas de 'forma concreta', a Vida que se tem, enquanto ela estiver a se encaminhar, enquanto fluir em nós o ar...
É Tempo de Ver.... - O tempo está passando (em quê estamos nós avançando?), o quê estivemos a colher? Os frutos que buscamos são os nossos mesmo, ou apenas nos enganamos que não seguimos resquícios de "não vida ou alheios planos"; ou que o trabalho ao qual nos dedicamos é mesmo para 'nossos ganhos'? Afinal, são os fatos, são os atos que movimentam o viver, não somente o que pensamos, desejamos ( o que queremos ver)...
Talvez, esse seja o 'grande lance', o ápice, 'da revolta das coisas da vida ou na vida', que acontecem de forma mais acentuada: um ponto (ou vários) de exclamação com interrogação em forma de dores, dúvidas, frustrações, e noites sem calor e cores, a nos falar: - O que estás a fazer contigo mesmo!?!? [E essa pergunta, mais de uma vez, dentro de nós mesmos não podemos responder.... Não por não vislumbrar horizontes, e sim porque a resposta é a que nunca queremos essencialmente enxergar...].
É tempo de V...IVER! - Não querer somente aquilo que não satisfaz ou satisfaz ao conveniente... Não querer mais "Mais do Mesmo", já visto em "vivências" lá trás.... E, ainda, Não querer ver a vida por cores, jogos (sejam quais forem: digitais, virtuais ou desleais), ou lentes alheias, que só nos levam a caminhos que não são os nossos: seja sob forma de 'visão de enganos com cara de verdade' ou, ainda, de desilusão alheia, de desesperança no que é verdadeiro, puro, belo, singelo... Ou no fluir conforme o andar de outros. Ser fiel (embora nem todos sejam) ao que nos encanta e é 'nosso', e que nos cabe cultivar, para poder colher: à energia da Vida, e tudo quanto ainda tem para fluir em Nós!
Bem é verdade que muitos acham que estão a Viver (seja enclausurado, ou sob forma de uma caixa de recordações endeusada; seja por ilusões cibernéticas sem luz real, ou com coleções de emoções - tanto as boas e as ruins em um mesmo pacote. Fazendo, tratando, vendo tudo e todos como igual, no mau sentido), onde cada um vive pelo o 'que vê', sem, muitas vezes, ser o melhor que possa lhe parecer (pela visão que quer ver)... Mas "esse decreto pessoal" não pode e não deve catalogar pessoas (inclusive nós mesmos!), como sendo coisa pouco importante, ou destinar ao hoje as mazelas de outros de ontem... E, por outro lado... Dizer ao tempo de agora: - "Ah, tempo...! Não há 'tempo, espaço' para o ontem no tempo de hoje!"
É tempo de... Crer! - Crer no essencial. Crer em Deus, e não confundi-lo somente com os dogmas da religião. Crer no homem, sem defini-lo, ou o delimitarmos com 'as leis dos homens'... Porque estas passam pela ganância, discrepância, intolerância.... E outras "ânsias" mais. 'Leis' passadas de geração em geração, como uma programação...
É tempo de... Desaprender! - Para aqueles que assim quiserem...... (Querer sempre! ) E ser quem somos! Como cada um é quem é, no melhor sentido de Ser! Não apenas seguindo a 'carruagem de alguém', pois ninguém é igual a ninguém. Portanto, não devemos aceitar "que nos diminuam, cataloguem"; "não aceitar se diminuir" para somente existir como convém ao mundo, 'às coisas do mundo', ou como "uma mesmice repetidora, replicadora de sentir"! Somos mais! Rumando a reencontrar a essência realmente nossa. (E a motivação não deve passar pelos os rios das mágoas ou asperezas na alma... Ou pelo catálogo de experiências vividas e cultivadas com seus feitos já passados... Mas... pelo voar!)
Pelas asas da poesia, da fantasia?! Sim! E também do que é verdadeiro... Não tendo dúvidas sobre as coisas que nos encantam, bem como não fechar os olhos para as contaminações festejadas, colecionadas em nós... Essas deviam nos espantar sempre! Mas... O que efetivamente buscar? O Viver e sua plenitude! Não com ensinamentos marcados, formatados, mas com a grandeza simples e inexplicável que a vida ainda tem para nos mostrar, e na sua infinitude que pudermos alcançar, abrigar...! O ainda Mais de tudo o que já vimos, fomos, vivemos, sentimos.... Sem mesmice nos atos, enquanto o belo em nosso ser aguarda para nunca ser... Pois não se pode voar verdadeiramente com ferrolhos nos pés ou raízes na alma...
É tempo de... D e s p r e n d e r! - Desprender do que não é, e deixar realmente o espaço para o que é em nosso ser! E nos reencontrarmos na liberdade... (Para quem quiser se encontrar!). Sem esquecer, novamente, de ver que..... O tempo é escasso para todos! Principalmente quando se trata do que é verdadeiro e leal, em um mundo com valores tão desleais... Ter a consciência de que não "somos senhores da vida", nem do tempo, seu ajudador. Somos agentes do seu fluir! E reconhecermos que com alma vestida, não somos capazes de ver (e viver) o essencial... Só a ilusão, afinal!
"Caminhos, trilhas, ninhos...
Poesia, fantasia, magia...
Tudo uma questão de percorrer.
Não com pegadas marcadas,
Com o mover do melhor que se possa ser
Dentro do caminho dolorido percorrido,
perceber onde reside o imenso cansaço de um poeta!
Não da vida, e dos seus sonhos sinceros e floridos;
No que insistem denominar o que é o viver...
Muito verdadeiramente, de brincadeiras para não sorrir;
De jogos que são feitos só para perder, e,
Com muito pesar, de amar sem ver o amor ser..."
(Valéria Milanes Aluahy, in "Caminhos sem direção de Ser")