--TEMPOS MODERNOS III
"A Poesia está muito para além da Escrita.
A Poesia é na sua essência fundamentalmente um estado de Alma, fluindo livremente, planando feliz no infinito espaço sideral, envolvente, circundante.
Liberta das correntes da opressão e dos grilhões
que escravizam o interior do Ser Humano."
_Fernando Correia
Embora a Poesia seja (também) um canal a refletir a experiência humana em suas infinitas possibilidades, cores, dores e tudo mais, o 'viver virtual' é uma nuance com pouca cor para a mesma, não por preconceito, e sim pela constatação de ausência de sensações, emoções, de reais 'conceitos'... Pela ausência de vida real e todo o sentir implícito no sentido de Viver, propriamente dito. Porque as dores estão a prevalecer sobres as cores... É, sem dúvida, um sentir à luz da Poesia, mas um sentir amargo...
Duro quadro pintado em pixels: Vidas e vidas enganando-se de que o viver na ilusão, de que o virtual é real ou a única realidade possível! ( - Vide o caso da adolescente que se matou após ser proibida de usar uma rede social...) - Que triste! Que horrível! Ver a humanidade ser reduzida às possibilidades impostas pelos bytes. Ver a humanidade preferir a vida criada no virtual, do que construir (com sabores, dissabores e crescimento inerentes) uma vida conquistada dentro da sua realidade ou, até mesmo, ultrapassá-la, se assim houvesse mais vontade, querer, poder de discernir; enfim, por querer algo mais...
Alguns dirão(!): - Esse caso é isolado e esta adolescente tinha algum problema a mais, a proibição sobre a rede social só acelerou isso!
Talvez! Mas isolado não é o caso, e sim a pessoa que não viu vida após 'sua vida na rede social' (de ilusão, de restrição, de conformação...) ser 'desmantelada'. Crítico é o caso de pessoas não valorizarem o contato pessoal. Limitado é o estado em que a humanidade tem se permitido viver, acreditando que há vitória, conquistas, aperfeiçoamento ou prazer somente nisso. E não! Não é um caso isolado, mas um só exemplo dentre os milhares pelo mundo...
Exemplos Reais (ou seja, não são virtuais ou inventados): Pessoas estão morrendo de acidentes por estarem no smartfone e dirigindo, ou caminhando distraídas, apagadas da vida... Em outro caso: Uma dona de casa morreu linchada porque alguém criou um boato (uma coisa monstro e levianamente inventada) que se espalhou e se espalhou, e outros não se deram ao trabalho de ver de perto a veracidade da informação (pesquisar! Ah... É! Isso dá trabalho!), como quem assume e acredita: pois, se está na web "é verdade". Uma família na Vida Real ficou sem a mãe, sem a esposa, sem a filha.... E por quê? Porque a limitação humana está cada dia mais alimentada e festejada como evolução...! Uma dor tamanha por causa de um ato mesquinho, pequeno, sem o menor respeito, capacidade (ou vontade?) de julgamento responsável... Um ato sem coração, sem alma, apenas mecânico de ser...
Existem, ainda, os que estão com seus celulares 'em punho' (falando alto e sem parar em lugares coletivos, como cinema, teatro, show...) atrapalhando o lazer, o trabalho de outros; e o querer 'enfiar pela goela abaixo' o que para eles (falta de coerência, entre outras coisas) é normal, natural...
Atos esses e muitos mais... E dos mesmos seres que compartilham duzentas milhões de vezes os dizeres: Ubuntu - Eu sou porque nós somos! Isso na teoria, pois na prática... E por aí caminha a humanidade... Caminha ou se arrasta?
A questão (pre)ocupante em si não está nas redes sociais ou na tecnologia, mas nos 'palcos rasos' que os seres resolveram atuar, viver... Na pobreza de não querer ser, apenas existir; satisfeitos por serem cópias... Outros acham que já viram muito da vida, ou seja, acham que viram tudo, e seguem um ciclo de repetição e repetição, e repetição... Que não gera vida real. Somente, e muito mau, uma vida idealizada (e talvez uma vida assim seja, para muitos, o ideal...).
Mas, será que não ficam perguntas no íntimo: - Quando eu for embora, eu vivi o "bom combate"? Fiz o que deveria para eu e os à minha volta evoluirmos? Fiz tudo o que pude? Mesmo se essas perguntas existirem (se existirem), não bastam no momento de ir... Em cima da hora. O tempo e a vida não param, não esperam... O tempo de ser e de fazer qualquer coisa é agora... Arrependimento ou o querer voltar no tempo não serão suficientes para nada. Algo só pode ser pleno se for amplamente vivido...!
Viver a vida social_pessoal somente via rede social, por exemplo, é permitir-se ser controlado, ser limitado, ser somente parte integrante de um jogo_virtual.com.br que traz, sim, algumas manifestações de vida, de energia, mas... E o tudo mais da vida, qual o espaço está ou estará sendo dado? E o algo mais, em qual espaço da mente e do coração será vivido, compartilhado REALMENTE?
Concordando que a interação social deve acompanhar as tendências - e admitindo que profissionalmente tem até seus pontos positivos - e que a internet (não o mundo virtual, não o viver virtualmente) democratiza a informação; registra, resgata memórias, histórias, dentre outras, não se pode fechar os olhos sobre uma questão: até para isso (vida profissional na web, inclusive) precisa de inteligência, perspicácia, coerência e objetivo concretos; precisa de mente ativa e coração! Assim sendo, sempre haverá discordância de nossa parte de que esta é, ou seria, ou será a única possível - principalmente no que se refere ao pessoal, e as características únicas do relacionar-se com verdade: o tom da voz, o olhar, o toque real de alguém em nossas vidas... Jamais o virtual será real, sem um olhar verdadeiro...
Concordar em lidar com pessoas de forma automatizada como 'tábua de salvação' é andar de mãos dados com a ilusão, se deixar dominar pelo conformismo dos programas (ser controlado por programadores de sistemas) e suas atualizações... É dar de 'mão beijada' o papel de protagonista de sua vida, para ser o que a máquina quer que seja: que seja sabido, que seja sentido, quando conveniente for... Além de colocar vidas em jogo (ou em um jogo!), é não ter autonomia; é deixar que 'máquinas' governem os estados de espíritos, de ânimo, de querer fazer ou não fazer. - E o que é especialmente característico do homem: Fazer o possível, o impossível até, de acordo com o que cada alma humana possua dentro de si, fica onde? - E o fazer o que mais possa ser, ainda que não esteja sendo todo vislumbrado no momento atual, como sucederá, se as mentes estão cauterizadas? - Em que momento o amplo poderá ser vivenciado para que o seja (ao invés do querer conveniente e robotizado), se necessita de espaço, envolvimento, sentimento para ser e ser real?
Não perceber essas perguntas no ar é deixar de ser para estar como tudo estiver unicamente... E ser manipulado como se um 'mouse' fosse... Renegar o poder de criar, planejar a própria vida para ser espectador da vida alheia... E isso é triste, muito triste!
Se viver é uma infinidade de possibilidades e situações, essas possibilidades estão cada dia mais pobres, por serem trocadas por apenas passar o tempo a visualizar... Algo inerte e sem vida (é um capítulo da vida, mas não pode ser toda uma vida...). A vida é, sempre foi e deverá ser mais... Sob pena de não haver vida concreta e suas consequências...
Em minha garganta de poeta (quem 'vive na contramão do mundo') fica uma pergunta que não tem se calado noite e dia: - É só isso que você quer para a sua vida? E confesso que com esta pergunta meu espírito se entristeceu, pois jamais a resposta à essa pergunta será uma afirmativa positiva... E me entristeceu mais ainda por perceber que uma boa parte do mundo apressadamente respondeu... - Respondeu sim!
É... é preciso muita fé!
"Minha alma de Poeta
- juntamente com meu espírito -
está enormemente triste...
Atingidos por uma afiada seta
Por não ver as nuances do que existe
Atmosfera em cuja qual a vida flui,
pesada, calcificada, conformada...
Ao invés de ampliar, exclui.
Ao invés de evolução, manipulação.
Gemidos, dores... Luzes sem cores.
Vidas vazias, mentes engessadas,
Sensações e emoções amarradas..."
(Valéria Milanes Aluahy)
*Observação@Cultural.com.br:
Mesmo não assistindo novelas (a não ser quando há tempo, estas iniciam e tratam de um assunto específico), 'zapeando' , passamos pelo canal estreando uma que fala de Tecnologia (novela das sete atual), e foi interessante ver a cena, por exemplo, do 'namoro virtual' de uma analista de sistemas e o personagem que vive no exterior: só o que o 'namorado' diz, pensa, cogita é que ela vá encontrá-lo... A 'sua namorada' está passando o 'cão chupando mariola': pai preso, irmão com problema psiquiátrico, desempregada, discriminada pelo erros/roubos do pai... E o seu querido namorado só quer ver o bonitinho da vida... Conveniente e bonitinho para ele, é claro! É a arte imitando a vida - ou seria o contrário, já que a arte espelha a cultura, o mover de um povo?
Ah, mas temos de ver também o bom e belo da vida... Sim...é! E também é muito belo ter quem se importe conosco, independendo do que temos, simplesmente por quem somos, e o quão tocamos a alma de alguém... Quando alguém nos enxerga! Também é belo quem queira viver os bons e maus momentos, pois destes nascem surpreendentes outros momentos, aqueles oriundos de personagens quase esquecidos, deletados da vida: o companheirismo, a cumplicidade, a lealdade...
Sinceramente, eis a grande verdade desse mundo (inclusive virtual) maravilhoso e seus relacionamentos interessantes: a pré-disposição de só querer ver o bonitinho, não importando a Pessoa, o tudo o que há na vida real... E isso lá é relacionamento!? E isso é interessante para quem? Querer entender que a vida só tem 'o bonitinho', o bel prazer, é o máximo de quem já está entregue ao individualismo, alimentando o egoísmo e, claro, já decidiu viver só... E nem sabe... E nem quer saber! Saber para quê?
Está escrito em algum lugar que a 'solidariedade é a expressão mais nobre do amor... Lindo e triste...! O mundo ainda não entendeu que não há (ou haverá) solidariedade em um mundo atravancado pelo desamor e alimentado, cada vez mais, por máscaras e pelo individualismo... Muitos e muitos ainda não entenderam como este mundo, a humanidade está rumo à ruína. Entregue à falta de discenimento, falta de responsabilidade, falta de valores, de sentido para viver, rumo à escuridão... Como ainda não entenderam que cada um está a viver para si mesmo e suas consequências?! E esquecem - porque querem esquecer - que sem o amor (o querer bem a alguém de verdade e com verdade) prevalece a dor... Uma lei universal, imutável que nem o ego, o materialismo ou o pseudo-poder de que tamanho for, poderão atenuá-la, aplacá-la ou mudá-la... E vamos que vamos rumo ao nada...!
FIM.com.br
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Fonte imagem: Google imagens