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Imagem: Divulgação/Google imagens |
Série:
Arte_Cultura in Reflexão
Fatos Reais da Irrealidade
(Filme: HOAX)
Filme Curta Metragem - Ficção
Duração: 17 min Ano: 2016
País: Brasil Local de Produção: ES
Cor: Colorido
Crítica_Reflexão por ValériaM Aluahy
HOAX – título com palavra/termo de língua inglesa, que tem por tradução: farsa, embuste, trote –-, filme escrito e dirigido por Thiago Amaral Ribeiro (disponível em diversas plataformas de divulgação de filmes em curta-metragem. Inclusive, no mais famoso, Porta Curtas), traz à tona uma temática tão presente em nossos dias, porém, realmente e convenientemente, ainda pouco discutida ou pouco enxergada no âmbito cinematográfico brasileiro, inclusive: as redes sociais e como seu mau uso ou o uso da má interpretação de uma informação, uma mensagem, pode destruir mais do que podemos padronizar como real ou irreal, verdade ou inverdade acerca da importância da vida e sua multifacetada expressão.
Estamos em tempos sombrios, dizem uns. Estamos em tempos esclarecedores, dizem outros. E esses dizeres não estão pautados no que, até pouco tempo atrás, podia ser representada com a palavra: Verdade. Na "Era toda-poderosa tecnológica", hoje, a "verdade não existe", pois o uso da chamada "pós-verdade" - nome / filosofia aparentemente com abrangência para o além, o amplo para as questões subjetivas -, na prática, vem sendo usada, abusada e direcionada para algo que delimita (como um poder catastrófico impositivo firmado em valores incutidos), com base no desconhecimento e legitimados por um "ouvi dizer ou recebi no meu celular"... Exemplos vários: vide manifestações focadas no obscuro e desconhecimento, incluindo contra a Arte, contra Museus, contra PESSOAS, artistas ou não, com ameaças de morte e não no sentido figurado, e sim realmente.
Ilusão digital...Por ser usada para divulgar um lado, um dado ou uma questão definitivamente, portanto, sem necessariamente comprometimento com o real, ou... Uma Realidade, pode valorizar mais até o que é falso dito como sendo verdadeiro, o que queremos ver ou nos impõe a ser visto, e que tem "norteado" (no sentido de limitado mesmo), não apenas as mentes, no contexto de real conhecimento sobre determinado assunto, mas principalmente as emoções, no sentido negativo, ou no âmago da motivação de uma ação - no que tipifica ou não ser fato real ou pertencente à realidade. Aparvalhando o sentido do que é para o que "tem que ser", segundo o bel prazer da interpretação, e alheia ao conteúdo tanto do fato quanto de quem o interpreta.
Em tempos onde os likes, os retwíttes e/ou compartilhamentos são mais importantes do que o que está sendo dito, visto, proposto ou o seu contexto em si, o curta de ficção (que poderia ou pode muito bem espelhar os acontecimentos em qualquer bairro nesse exato momento) tem interessante papel de nos encorajar a tirar a venda dos olhos, nos levando a visualizarmos o que acontece não 'só em ficção', nos remete até nossas telas... No mundo virtual em que vivemos no nosso dia a dia! E, para os que buscam perceber e participar efetivamente nesse 'tempo', nos incentiva a nos perguntarmos: estamos nós utilizando os tempos atuais a favor ou contra a humanidade e sua pluralidade? Ou ainda... Temos contribuído com o propagar de informação (com espaço para o contexto e ampla defesa das características das coisas) ou temos tão somente replicado (como robôs, algoritmos, bytes programados) os dados que temos acesso - sob forma de artigos, vídeos, fotos -, e sem atentarmos a quem interessa isso, irresponsavelmente?
Por através de planos cotidianos, o curta nos convida a viajar nas possibilidades da vida vivida. Seja por imagens das maravilhas que temos na natureza - pelo litoral capixaba -, seja por mostrar o ainda mais óbvio: grupos sociais 'existentes e reais' que estamos entremeados (entre aspas mesmo, pois estão cada vez mais invisíveis), bem como as relações sadias, como no ambiente de trabalho, e que são pouco percebidos ou desvalorizados como integrantes de nós - e que banalizamos e, com isso, ao vilipendiá-los, estamos causando rupturas profundas por questões rasas e dando espaços para as devidas consequências dessas lacunas incentivadas (e não só com consequências em nosso meio); quando valorizamos um 'pseudo-prazer' sobre todas as coisas - quando apenas "enterramos a cabeça" na tela de um celular, notebook etc. e reproduzimos displicentemente um padrão. Quando incentivamos, portanto, um capitalismo selvagem com cores digitais, com carinha de inocente marketing; uma mídia (e boa parte da imprensa) comprometida com interesses apenas financeiros, sensacionalistas ou de exclusão, e sem relações diretas com a informação, e as pobres políticas públicas sociais, que dizem incentivar a era digital como fator de fomento da educação e cultura - mas que, na prática, trabalham para os lobbies e grupos (de empresariado e bancadas que representam meia-dúzia, esses sim a minoria). Buscam entorpecer as massas em prol de interesses dúbios e direcionados na contra-mão dos interesses da população. Interesses estes que vão muito além de 'apenas' estar na era da informação (ou desinformação?) tecnológica, e perpassa por ter acesso à condições socioculturais abrangentes a fim de vivenciar, discernir, refletir e atuar acerca de e para uma sociedade mais sadia, de forma conscientemente construtiva, e não somente age no automático e sob influência de gatilhos anônimos.
HOAX cumpre bem um dos grandes papéis das artes visuais, sobretudo, do Cinema. Em cada quadro é possível visualizar cada enquadro que a sociedade tem sido convidada a se estabelecer e o que tem sido convidada a esquecer. Em cada ponto dinâmico da edição/montagem somos transportados (ou relembrados) de que a correria em satisfazer um modismo ou uma tendência leva junto para mais distante não um fato apenas, mas talvez um sentido da vida a se perder, inexoravelmente, nos meandros da irrealidade cultuada. Irrealidade, essa sim, a despeito dos efeitos, propagada sem barreiras, sem fronteiras.
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Nota do Blog ---
____Esta reflexão espelha as impressões da autora, e não tem nenhum cunho "propagandístico-financeiro" ou divulgação vazia da Obra. Visa tão somente trazer bons trabalhos no âmbito da cultura (neste, no audiovisual) à tona, por serem verdadeiras crônicas de sua/nossa época...
Fonte imagem: Google imagens