sexta-feira, agosto 25, 2017

Ultimatum...

"Ultimatum a todos eles
E a todos que sejam como eles
Todos!
Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante

E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudo..."

Brazil mostra a tua cara, Brasil, Acorda Brasil, Amazônia e Vidas em leilão, Brasil2017, Reflexão Poesia


Intérprete: Maria Bethânia - "Ultimatum"  

Álvaro de Campos // Fernando Pessoa -1917

Créditos: Artemanha



"Mandado de despejo aos mandarins do mundo
Fora tu,
reles
esnobe
plebeu

E fora tu, imperialista das sucatas

Charlatão da sinceridade
e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro
Ultimatum a todos eles

E a todos que sejam como eles

Todos!
Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante

E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral

Que nem te queria descobrir
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudo

Vós, anarquistas deveras sinceros

Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar
Sim, todos vós que representais o mundo
Homens altos
Passai por baixo do meu desprezo

Passai aristocratas de tanga de ouro

Passai Frouxos
Passai radicais do pouco
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa
Descascar batatas simbólicas
Fechem-me tudo isso a chave
E deitem a chave fora
Sufoco de ter só isso a minha volta

Deixem-me respirar

Abram todas as janelas
Abram mais janelas
Do que todas as janelas que há no mundo
Nenhuma ideia grande
Nenhuma corrente política

Que soe a uma ideia grão

E o mundo quer a inteligência nova
A sensibilidade nova
O mundo tem sede de que se crie
Porque aí está apodrecer a vida
Quando muito é estrume para o futuro

O que aí está não pode durar

Porque não é nada
Eu da raça dos navegadores
Afirmo que não pode durar
Eu da raça dos descobridores
Desprezo o que seja menos
Que descobrir um novo mundo

Proclamo isso bem alto

Braços erguidos
Fitando o Atlântico
E saudando abstractamente o infinito.”
___Álvaro de Campos, em 1917
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"O Tempo não pára" - Arnaldo Brandão / Cazuza
Interpretação: Elza Soares
Vídeo by Youtube

Fonte:imagem: Google imagens

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