"Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas,
que já tem a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia:
e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado,
para sempre, à margem de nós mesmos."
_Fernando Pessoa
Momento_Reflexão:
Verdade x Opinião. Espontaneidade x Premeditação
#ParaRefletirComOCoração
Darmos menos audácia às experiências vividas, passadas,
inseridas, e mais liberdade à nossa essência...
Enxergando em 'cada Hoje',
o início de tudo o que há para se Viver... e Ser!
Darmos menos audácia às experiências vividas, passadas,
inseridas, e mais liberdade à nossa essência...
Enxergando em 'cada Hoje',
o início de tudo o que há para se Viver... e Ser!
Sob diversos ângulos, a espontaneidade é o nosso maior tesouro... Um fluir com origem em nosso espírito, nosso íntimo (o "eu" verdadeiro), diante de momentos que a vida, coisas desse mundo, nos mostram, ou nos impedem... Bem diferente da premeditação: que tem origem na mente (e também não em uma verdade), e seu agir tem tudo a ver com experiências (mal) passadas, relegando ao presente a injustiça: de ser, de agir...
Alguém ao agir premeditadamente, dá mais valor às suas experiências (muitas vezes e, principalmente, as ruins), do que à verdade, que vem do próprio coração, ou do coração de alguém.... O que é espontâneo espelha autenticidade e liberdade... E liberdade é uma palavra pequena, ínfima, diante de sua condição: infinita. Que não possuimos... Há em nós... Somos nós! - A criança é um Ser que reina nesse Reino... - Tem um quê de ousadia, tanto quanto tem de 'genialidade'... Assim é, porque está relacionada com o fora dos padrões, fora dos pendões, fora das amarras, das prisões... Prisões de vivência, prisões de conveniência, prisões de opiniões... Prisões sob forma de experiência... Enfim, algo que vem do âmago, e não da mente (que é algo construído, e até destruidor...).
Nascemos, materializamo-nos, com um brilho, com uma luz plena fluindo de nós... Com verdades que esse mundo nem pode compreender (não com a mente!)... Ao passo que crescemos, vamos sendo entulhados de informações, segundo às convenções, mas não para o nosso bem viver intimamente, ou para Ser... Apenas para existir, somar mais do mesmo que conformado já está (e para dar quorum). Mas, assim não é, e nunca será (segundo os princípios pluriversais) a condição mais que ideal, a real condição. Assim, ao nascermos, Somos - também, cada um de nós, Sendo - um fator a promover equilíbrio de uma ou mais verdadeira condição universal... Aquela que nos faz ir além, até, infinitamente. Mas... e a espontaneidade? Sendo 'morta' a cada consciência do que "aprendemos no mundo"...! É... nosso tesouro sendo roubado, saqueado, trocado por 'ouro sem valor': aquele que nunca nos satisfaz....
Então, à luz do viver e ser, a necessidade de travessia urge; e assim é porque tudo o mais ensinado, vivido dentro de nós, ainda é insuficiente para sermos... Incompletos vivemos, refletindo idéias, visões, traumas... Como verdades absolutas, mas nada no universo é absoluto, mas em construção, evolução, 'fluição'...
Até no 'mundo nosso de cada dia' a espontaneidade é 'percebida como que algo que este mundo não controla'; incontrolável, intocável (ou assim deveria)... Por exemplo: no meio jurídico, nas normas de conduta etc.: O 'criminoso é aquele que teve intenção'... 'Onde houve dolo, há crime'. Ou seja, onde não houve planejamento, não houve maldade, não houve maquinação, não houve a mente como fator principal de uma ação, é uma 'legítima defesa de ser'... O que quer dizer que: 'até esse mundo escabroso fazedor de robôs' reconhece o Ser espontâneo, mas o 'homem enquadrado', não... Onde o homem torna-se réu dos homens... O homem torna-se o 'juiz de si mesmo'... (Não esquecendo que aqui, claro, há uma reflexão sobre espontaneidade...).
No meio de tudo isso, ainda, temos: o próprio homem não se permite 'ser julgado', mas 'permite-se julgar o outro'... E, no fim das contas, não entende porquê o mundo está tão cruel... Pois, não se percebe cruel no seu cotidiano (percebe-se até 'politicamente correto'), agindo e reagindo conforme atos segundo a mente imperando (não segundo o espírito, o pulsar do coração)... Atos refletindo o que diz, muitas das vezes, no seu dia a dia, que repudia...
Um exemplo de "homem julgando o homem": uma pessoa é fumante por vinte, trinta, cinquenta anos (e aqui não há um julgar se é certo ou errado; cada um deve intuir sobre o seu eu...), e segundo sua opinião, ele, ainda fumante, assim permanece 'até quando quer', segundo sua individualidade... Mas, um dia essa 'opinião muda' (seja por si ou opinião médica, seja que opinião for), e ele deixa de ser fumante... E o que ele faz? Fica somente feliz por ter parado, ou começa a criticar e discriminar aquele que não parou? No momento que algo lhe é cerceado, segundo os valores do mundo, sua felicidade "depende" da infelicidade de alguém... Quando fumava ele não tinha essa condição, mas a adquire: ser juiz do outro (um replicador de opiniões, e com carinha de boa intenção...). Claro que querer o bem não é crime, mas já o julgamento, e as ações provenientes deste... Isso é um direito de ser ou um efeito colateral de existir? - e isso não é espontâneo... É ranço deste mundo! Origem de intolerância; causando injustiça, julgamentos, preconceitos... Uma dormência de ser... Tudo bem velado, não revelado; mas atuante...
Tem também aqueles que gostam de justificar sua 'não-ação' com frases de efeito: - "Meu sentimento, meu sentir está no meu mais profundo ser, ou no meu silêncio"... - (hein!?) - E para quê isto serve, se para questionar, criticar, mostrar o seu ponto de vista sobre alguém, de forma negativa ou incisiva, arranja-se um jeitinho de ser mostrado? Só o ruim deve ser expressado? Só as experiências e conhecimentos sobre o negativo é que vão fazer a diferença no mundo?
Minúsculos exemplos diante do 'mundo de hoje'... Mundo triste, e trancafiado no que colocam na mente do homem...! Dia após dia, anos após anos: coleções de situações, de opiniões... Cruas, de outros, de alguém ou por causa de alguém... E tudo ficando um 'pacote só'. Um ser sendo definido por outro... E, lamentavelmente, não estando inteiro, o homem, nem com ele mesmo ou o seu Hoje; caminha, talvez, para que não haja Amanhã, pois o Ontem é quem 'está com a razão'...
Contudo, sempre haverá um tempo de travessias (se assim quisermos)... Um tempo de querer Ser, e não apenas refletir o que se 'aprendeu'... Um tempo de dizer (com relação ao íntimo, à intuir, e nunca relacionado a fazer mal a outrem): - "posso não saber nada do mundo, não conheço o mundo (nem tenho obrigação de fazê-lo); não entendo nada de 'futuro desse mundo', não tenho nada de grande valor deste mundo; talvez seja todo errado com relação ao mundo, opiniões do mundo; podem dizer que riquezas deste mundo não me interessam, e nada material deste mundo é meu... Mas em mim nada é premeditado, nada é pelo o que o mundo tenta inserir, manipular; intoxicações na alma... O que vou levar é tudo quanto a Vida quis me ensinar - sim!, sob a forma de emoções, sensações -, mas nunca o que de mim deve fluir... E o grande crime cometido de forma recorrente, é deixar falar a voz do coração! E a pessoa que vos fala, e que a cada dia está se desprendendo dos cascalhos encrustados... Esse ser... sou EU's!"
"Quanto mais o tempo passa,
Mais a espontaneidade se escassa.
Tanto mais conhecimento,
Mais o entorpecimento...
Conhecer é bom,
Sentir e ser é melhor.
Conhecimento e convenção
Não são suficientes
Somos todos culpados
Quando o agir vem da mente...
Pode um corpo viver sem coração?"
(Valéria Milanes Aluahy)
A Defesa do Poeta
(Natália Correa)
(Natália Correa)
"Senhores jurados, sou um poeta
um multipétalo uivo, um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.
Sou um vestíbulo do impossível,
um lápis de armazenado espanto
e por fim com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes),
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.
Senhores banqueiros, sois a cidade,
o vosso enfarte serei,
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei.
Senhores professores,
que pusestes a prêmio minha rara edição
de raptar-me em crianças,
que salvo do incêndio da vossa lição.
Senhores tiranos, que do baralho
de em pó volverdes, sois os reis,
sou um poeta, jogo-me aos dados,
ganho as paisagens que não vereis.
Senhores heróis até aos dentes,
puro exercício de ninguém,
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.
Senhores três quatro cinco e sete,
que medo vós pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
Senhores juízes, que não molhais
a pena na tinta da natureza,
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.
Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de perdão,
a raiz quadrada da flor,
que espalmais em apertos de mão.
Sou uma imprudência à mesa posta
de um verso onde o possa escrever...
Ó, subalimentados do sonho!
a poesia é para comer."
um multipétalo uivo, um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.
Sou um vestíbulo do impossível,
um lápis de armazenado espanto
e por fim com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes),
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.
Senhores banqueiros, sois a cidade,
o vosso enfarte serei,
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei.
Senhores professores,
que pusestes a prêmio minha rara edição
de raptar-me em crianças,
que salvo do incêndio da vossa lição.
Senhores tiranos, que do baralho
de em pó volverdes, sois os reis,
sou um poeta, jogo-me aos dados,
ganho as paisagens que não vereis.
Senhores heróis até aos dentes,
puro exercício de ninguém,
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.
Senhores três quatro cinco e sete,
que medo vós pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
Senhores juízes, que não molhais
a pena na tinta da natureza,
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.
Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de perdão,
a raiz quadrada da flor,
que espalmais em apertos de mão.
Sou uma imprudência à mesa posta
de um verso onde o possa escrever...
Ó, subalimentados do sonho!
a poesia é para comer."
Fonte imagens: Google imagens
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