Nessa entrevista, Clarice já sabia que estava doente... Já sabia que seu tempo, na condição física, findava, e sua partida estava bem próxima à sua porta (nosso espírito sabe o que ainda em nossa mente não cabe)... Pouco tempo depois, partia para a eternidade a escritora, nascia mais uma estrela a nos iluminar, chamada... Clarice Lispector.
No vídeo (*), podemos ver a escritora... Para uns, séria, misteriosa, impaciente... Para outros, tímida, triste, reservada, serenamente angustiada... Uns a percebem estática; outros, inquieta a fumar e fumar... A verdade é que todas as percepções estão corretas, genericamente falando... E a mais verdadeira de todas, como ela mesma diz: cansada!
Havia (e há no vídeo) tudo isso e muito mais: Um ser humano que não se acostumou com as nuances de ser, nessa existência limitada - somada aos moldes que tentam mais e mais incrustar tentáculos limitadores - com o sentir do infinito fluindo nas veias... (e um poeta não se permite moldar, rótulo ganhar, por uma incapacidade de ser o que uma só máscara quer mostrar...). E havia mais... Toda a vida, a que conhecemos, se esvaindo... Perceptivelmente, fisicamente, sentidamente... Doente! Seu espírito prestes a perder as amarras, e a fôrma dos medos incutidos sendo aflorada, descortinada...
"Intrigante, Clarice!", expressão mais falada, pensada, sentida até hoje... E por quê? O controvertido, a raiva, o incontido e muito mais estão a jorrar até quando ela se cala, e nas entrelinhas da conversa... Não é comum vermos alguém estar no "ápice de estar sendo", e isso é também espantoso! Não, esse nosso mundo não está acostumado ao revelado... Onde nos ensinam a dissimular, mascarar, obedecer os sentidos doutrinários da sociedade; onde alguns dizem, até, que não somos humanos, enquanto não nos 'formatamos', segundo a educação e a 'estipulação do conveniente'... Se não nascemos humanos, segundo essa corrente, então quem somos? O que aqui viemos fazer realmente?
(... ...) E, talvez estando prestes 'a morrer', poderemos nos revelar em controvérsias e verdades de sentir, mesmo sendo isso algo inusitado e estranho de entender; por nunca terem valorizado, realmente havido interesse de conhecer quem somos (só quem querem que sejamos), ou nos ensinado a plenitude das palavras... Viver e Ser!
(... ...) E, talvez estando prestes 'a morrer', poderemos nos revelar em controvérsias e verdades de sentir, mesmo sendo isso algo inusitado e estranho de entender; por nunca terem valorizado, realmente havido interesse de conhecer quem somos (só quem querem que sejamos), ou nos ensinado a plenitude das palavras... Viver e Ser!
(*) Essa entrevista foi realizada em fevereiro de 1977, mas só foi ao ar depois de sua morte, a pedido da escritora... Clarice partiu em 9 de dezembro de 1977, e deixou para quem quiser ver: as máscaras não nos cabem, principalmente quando o espírito está prestes a voar... Mas nos são apresentadas como opção da verdade, e, então, escolhemos uma... Até que...
(**) Clarice não tinha sotaque francês ou qualquer outro... Tinha uma 'língua presa', com severos problemas de dicção (Freud explica...) - Ah! Clarice não morreu devido complicações do cigarro...[existem pesquisas que os relacionam, assim como existem mulheres que nunca fumaram, beberam, no "interiorzão" do mundo e mesmo assim desenvolvem tumores...] Não somos contra ou a favor de quem fuma, pois "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é", ou do que se tornou... Sabe mais de si (ou não!), ou tenta aplacar a verdade de ser ou não ser, neste mundo nosso de cada dia... Se, verdadeiramente, analisarmos essas questões, outras 'drogas' liberadas são tão ou mais nocivas ao homem e aos os que estão à sua volta, como a bebida, ou as "drogas sociais", por exemplo... Como as questões do alcoolismo (especificamente) e, ainda, sobre a direção, como "diversão" irresponsável e desmedida, que tira vidas... (Com relação a isso, também, deveria ter uma Lei Nacional muito mais abrangente, reforma de códigos jurídicos, e não somente a prática de multas e blá, blá... de fianças e blá, blá... Isso se fôssemos, com verdade, analisar o que seria melhor para toda uma sociedade... ). Existem, sim, diversas explicações para se morrer (a maioria difícil de entender, e muito dolorido; por isso há que se ter o respeito devido) e apenas um motivo: o fato de estar vivo! (este que, graças aos céus, ao Pai, não pode ser manipulado, controlado., embora pareça...) Assim, temos conjecturas e explicações convenientes sobre a vida, mas o que importa na morte (ainda que pouco compreendido) é: O meio, um motivo, para "voltarmos para casa"...
___A última entrevista de Clarice Lispector concedida a Júlio Lerner, em 01/02/77, transcrita: http://www.revistabula.com/503-a-ultima-entrevista-de-clarice-lispector/
(***) Mais sobre Clarice Lispector : http://pt.wikipedia.org/wiki/Clarice_Lispector
"Viva! Faça, refaça! Seja!
Sonhe! Acredite em si mesmo, realize!
Mesmo com correntes contrárias;
nada está em definitivo definido.
Reconheça-se! Veja e reveja!
Buscando sair do padrão "triste e solitário",
que aparece como sintoma do que não se é...
Desnude-se buscando ser, pois o mais
só poderá ser conhecido, vivido
quando não houver mais espaço
para o espírito ser contido..."
(Valéria Milanês)
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